
PSILÍTERA
OFICINA DE PSICANÁLISE E LITERATURA
Dizem que um autor deveria evitar qualquer contato com a psiquiatria e deixar aos médicos a descrição de estados patológicos. A verdade, porém, é que o escritor verdadeiramente criativo jamais obedece a essa injunção. A descrição da mente humana é, na realidade, seu campo mais legítimo; desde tempos imemoriais ele tem sido um precursor da ciência e portanto, também da psicologia científica (Freud, 1907 [1906], Gradiva).
Ao chegar à cadeira de psiquiatria no IPUB, me dei conta que esta seria a minha especialidade. E assim foi. Emergência psiquiátrica no Hospital Phillipe Pinel com uma bolsa de estudos de dois anos fornecida pelo Ministério da Saúde. Em seguida, ambulatório no mesmo hospital durante mais três anos e ao mesmo tempo uma pós-graduação em psiquiatria na mesma UFRJ. Ao procurar análise por conta de problemas pessoais que me fustigavam, fazer a formação psicanalítica foi um pulo. O valor da escuta ganha então uma definição mais precisa.
Quanto ao meu interesse pela literatura, tem origem na minha infância: nos contadores de história e no teatro de mamulengos (marionetes). Depois o meu gosto por redações no colégio e minha aproximação com Monteiro Lobato, Tesouro da juventude com o Livro dos porquês, quadrinhos, romances policiais, enfim, tudo que me caía nas mãos ou nos olhos. me entretendo. A leitura mostrou-se amante fiel e grande companheira.
Anos mais tarde, quis a Boa Sorte me unir a dois queridos colegas, Sandra Edler e Luiz Alberto Pinheiro de Freitas, então amigos de um bom tempo, para uma empreitada divertida: a criação de um espaço onde o nosso dia a dia profissional e o nosso amor pela literatura fosse convertido num recreio como mais um recurso prazeroso para lidarmos com a inescapável dureza de viver. Em abril de 2004, fundamos a Oficina de Psicanálise e Literatura na Sociedade de Psicanálise Iracy Doyle.
Email: jdurval@unisys.com.br
José Durval Cavalcanti de Albuquerque
Psicanalista, membro titular da Sociedade de Psicanálise Iracy Doyle e pós-graduado em psiquiatria pela UFRJ. Autor de artigos nas revistas: International Forum (International Federation of Psychoanalytical Societies), Tempo Psicanalítico (SPID) e Trieb (Sociedade Brasileira de Psicanálise do Rio de Janeiro). Co-autor e co-organizador de Escritos sobre psicanálise e literatura (Cia de Freud, 2009). Coordenador do PSILÍTERA – Oficina de Psicanálise e Literatura.
Entrei para a Faculdade de Medicina da UFRJ fazendo parte da última turma do prédio da Praia Vermelha antes da mudança para o Fundão. Queria fazer clínica geral. No estudo da propedêutica médica, aprendi que a história do paciente, a anamnese bem colhida, era o maior trunfo para uma boa hipótese diagnóstica. É desta época que comecei a entender o valor de uma boa escuta. Esta iria dirigir o segundo passo que era o exame físico seguido de um pedido de um exame laboratorial comprobatório da hipótese diagnóstica formulada.

