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Apresentação

 

 

    Em 2005, um pequeno grupo de psicanalistas coordenado por Sandra Edler e José Durval Cavalcanti de Albuquerque organizou, na biblioteca da Sociedade de Psicanálise Iracy Doyle, no Rio de Janeiro, um espaço de trabalho para a leitura conjunta de textos selecionados de Freud e Lacan, privilegiando uma discussão voltada para o tema da escrita. O grupo, originalmente, denominou-se Oficina do Texto Psicanalítico.

 

    Ao início do segundo semestre, com a leitura da Carta ao pai, de Franz Kafka, e a chegada de Luiz Alberto Pinheiro de Freitas com a proposta da leitura dos quatro mitos do individualismo moderno: Don Juan, Don Quixote, Fausto e Robson Crusoé, foi configurado um novo projeto com maior ênfase na literatura. Foi então criada a Oficina de Psicanálise e Literatura que focaliza a interseção entre os dois saberes. Esse campo, inaugurado por Freud através de comentários e interpretações sobre autores como: Sófocles, Shakespeare, Goethe, Jensen, Dostoiévski, Ibsen e outros, tem como proposta oferecer a contribuição da psicanálise à interpretação literária, como "uma a mais" dentre as inúmeras possibilidades interpretativas que apresenta a obra de arte. 

 

   Desde então, o PSILíTERA - Oficina de Psicanálise e Literatura reúne-se, semanalmente, para trabalhar esta interface valorizando a abertura freudiana à arte e à literatura, em particular. Para Freud, os poetas e os escritores são capazes de, através do texto, presentificar o inconsciente: "...costumam conhecer toda uma vasta gama de coisas entre o céu e a terra com as quais nossa filosofia ainda não nos deixou sonhar" (1907 [1906], Gradiva de Jensen, p.18). 

 

    Toda a construção teórica da psicanálise beneficiou-se da intensa participação da literatura. Freud foi acusado de romancear a redação dos casos clínicos - poderiam ser confundidos com dramas literários. Ele próprio, em seu extenso trabalho, mergulhou nos mitos, nas lendas, na magia, no imaginário popular e, sobretudo, nas grandes tragédias, sendo as obras universais sua principal fonte de inspiração. Talvez por isso, o Prêmio Goethe de Literatura, de 1930, tenha sido o único que recebeu em vida.

 

    Podemos dizer que a permanência do pensamento freudiano, nos dias de hoje, deve-se não somente à força das suas descobertas intelectuais, mas também por habitar de maneira poética a língua, tão próxima ao escritor quanto foi possível ao cientista.

 

   Em nossa formação como psicanalistas fazemos e refazemos o percurso trilhado por Freud na construção do universo conceitual da psicanálise. Os desafios da clínica, os impasses teóricos, as contradições, os avanços e recuos de um caminho entremeado pelas limitações de uma época repressiva e de tradição positivista podem agora ser relidos sob outro olhar: o da intensa interlocução de Freud com seus autores favoritos. É estimulante reler Freud sob a perspectiva literária. Temos feito isso ao longo de nove anos, e agora, ao apresentarmos nosso trabalho, convidamos vocês a compartilhar conosco essa trilha privilegiada na qual a poesia, as grandes tragédias, os ditos dos personagens permanentes, como disse Horus Vital Brazil (1992, Dois ensaios entre psicanálise e literatura, p. 84), são como companheiros de caminhada, uma viagem imperdível...

 

Sandra Edller e Luiz Alberto Pinheiro de Freitas

 

Coordenadores

Sandra Vilma Paes Barreto Edler
Psicanalista, Doutora em
Teoria Psicanalítica – UFRJ

José Durval Cavalcanti de Albuquerque
Psicanalista, Pós-graduado em
Psiquiatria – UFRJ

Luiz Alberto Pinheiro de Freitas
Psicanalista, Pós-doutorado em
Ciência da Literatura – UFRJ

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