
PSILÍTERA
OFICINA DE PSICANÁLISE E LITERATURA
Dizem que um autor deveria evitar qualquer contato com a psiquiatria e deixar aos médicos a descrição de estados patológicos. A verdade, porém, é que o escritor verdadeiramente criativo jamais obedece a essa injunção. A descrição da mente humana é, na realidade, seu campo mais legítimo; desde tempos imemoriais ele tem sido um precursor da ciência e portanto, também da psicologia científica (Freud, 1907 [1906], Gradiva).

Iniciado em 2012, o projeto tem como objetivo percorrer a trilha dos principais autores e textos que fizeram parte da formação cultural freudiana. Começamos com a leitura da Trilogia tebana, valorizando a relação de Freud com a tragédia e associando-a a própria experiência psicanalítica. O teatro de Sófocles faz os primeiros apontamentos para o lugar de um sujeito que, antes, joguete dos deuses, vítima da ira divina e com o destino anunciado pelos oráculos, vai, paulatinamente, se responsabilizando por seus atos e ganhando crescente implicação naquilo que lhe acontece. O teatro tem início, por assim dizer, com a impotência do homem frente às divindades – os daimons que dele se apossam - para, ao longo das obras de Sófocles e Eurípedes, caminhar para um teatro antropocêntrico, já incorporado pela polis e ao lado de outras instituições sociais (o teatro grego funcionou por 80 anos). É o homem como cidadão exercendo o diálogo nas ágoras – espaço de convivência social e política. Implicado na cena, ele pode, cada vez mais, interrogar as questões da existência a partir de outra perspectiva.